quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Borracheiro

Não é personagem de Monteiro, nem modelo de Tarsila. Anônimo de beira de estrada. Tipo pouco íntimo da limpeza, varre a borracharia quando enxerga o lixo já insuportável. Dorme no quartinho dos fundos. Não é proprietário. Mas está tão esquecido que nem o patrão vem ali buscar trocados. No quartinho usa um catre feito de bambu, sobre o qual pos uma espuma amarela e um jogo de lençol jogado e faz de travesseiro uma jaqueta que um cliente esqueceu e nem serviu. Tem uma panela de alumínio e uma colher e o canivete. O copo é reciclado de embalagem de milho verde em vidro. Quase sempre se o vê vestido numa camisa polo bege e calça de brim azul. Chinelas nos pés. Jamais usa luvas. Para que, também! Ninguém passa por aquela borracharia com frequencia maior que cinco depois cinco dias. Por isso, enquanto aguarda trabalho, tira uma soneca dentro do gigantesco pneu de pá colheitadeira, que um dia achou bonito e aceitou como enfeite e chamariz para o seu comércio.

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