terça-feira, 30 de outubro de 2007

PALAVRAS DA DIREÇÃO (um conto escolar)

Se continuar a tratá-lo como inimigo seus ouvidos continuarão fechados uns aos outros, seus olhos verão somente o pior e suas bocas, ainda que não se abram, desconhecerão o dizer da paz. Peço que se perdoem, sem exigir que se dêem as mãos ou troquem palavras sem afeto. Peço que se perdoem, pensem sobre isso e o façam quando conseguirem.
É muito natural a presença da ancestralidade. Tudo vem de um passado e traz nos gens a parte do avô, de uma tia, do tempo do império. Nós sabemos disso e ficamos preocupados com o culto que se transmite de outra tradição. Ninguém deve se dobrar perante um conhecimento que não compreende ainda, mas deve querer conhecer um conhecimento que tem uma origem, uma explicação, que é aceita por outro.Por experiência afirmo. O conflito é uma realidade do aspecto dual da existência e isto é parte do universo. O diálogo não resolve definitivamente um conflito, mas pode transformar em fim uma espécie de conflito, deixando o espaço pronto para que, com o conhecimento da coisa, outro conflito de outra ordem venha a aparecer e se resolver. Conflito aparece de comparações de forças. Se você compara, tem chance de decidir-se entre um e outro e um terceiro mestiço. Se você escolhe o mestiço o um e o outro tem que estar no um só, que é o todo. Então, todo é um e nem você, nem o outro são mais ou menos. Agora vai, volta pra sala que meu tempo está restrito. Vou falar com mais alguém. Volte, com o seu pensamento e pode rebater se quiser.

REFLUXO RENIL

A criança é mole. Plástica, pratica alongamentos impossíveis ao adolescente em diante. O fruto maduro já velho está murcho. Já o Curupira, anda com os pés de fasto na pressa de se apresentar assustadoramente para as crianças que venham a saber dele; e jocosamente para os adultos que dele querem fazer crença. Todos vão para o além além dele, em qualquer tempo, quem sabe!O Curupira vai-se enganando os outros com o tempo que indo tá vindo e detrás da cortina, escondido, seus pés o denunciam dentro enquanto ele abre a janela e salta.Criança, larga essa maçã que está estragada!Uma maçã estragada num cesto com outras maçãs perverte as outras e a mãe apavorada grita que o infante largue imediatamente aquela velha fruta que pereceu. Veneno.Bruxa, bruxa a maçã que contamina as outras, cai na lixeira sem vida que já destinha quando colhida. Mãe dava maçã raspada para a criança passar mais horas viva junto dela viva. Em seus pensamentos às vezes ocorria um temor ligeiro, obsessivo, se levava ao filho o fruto proibido. O Curupira vinha encobrir à base de fumaça e pólvora os pensamentos da dona da casa que sem saber porque - sempre que dava a maçã - acabava a tarefa e fumava um cigarro. E enquanto pensava em nada - sem saber, pensando - lembrava em rasgões de cenas dum ser da mata, do tempo, do mato, a fumaça, o cigarro.