domingo, 27 de dezembro de 2009

O PODER COERCITIVO

Nas duas últimas semanas a guerra esquentou
depois que um grupo de hackers capturou
mensagens de e-mails dos cientistas
do orgão principal sobre mudanças climáticas
trocadas nos últimos treze anos
entre manos pra derrubar outros manos

O alvo do ataque foi a Universidade de East Anglia'na Inglaterra
o principal centro climatológico do mundo
Os e-mail divulgados na internet pra toda a terra
revelaram combinações entre integrantes da Universidade, respeitados e profundos,
para manter o mais longe possível os cientistas céticos
das revistas especializadas,como a Nature e a Science,
de um jeito imperceptível, nada ético
Ao mesmo tempo, faziam crer a quem pense,
que o principal argumento contra os céticos
residia na escassez de artigos por eles publicados
assim, além de postos de lado, os céticos serviam no futuro
ao argumento de que não aproveitavam a oportunidade.

QUANDO A RAZÃO COMPREENDE MAL A NOVIDADE

(Sumo extraído de Peter Gay em, MODERNISMO)

..decorre do fato de que desde o início o campo de batalha foi sabotado pelas incompreensões deliberadas de seus aguerridos opositores.

Nessa atmosfera inflamada, os antimodernistas emitiam opiniões que primavam pela veemência, pela recusa obstinada de avaliar qualquer argumento que os rebeldes fossem capazes de expor.Mas poucos dentre os inovadores chocavam a cultura pela simples vontade de chocar. Certamente alguns se empenhavam em ser ofensivos, e o público em geral lhes agradecia pela ofensa. No entanto, quase sempre as reações do sistema eram francamente desproporcionais aos ataques sofridos.

Para o leitor de épocas posteriores, o que mais surpreende nessas efusões é a histeria descontrolada, a hipérbole impotente dos bons cidadãos ameaçados, forçados a encarar verdades até então reprimidas de suas vidas.

Páginas 26 e 27

sábado, 19 de dezembro de 2009

DELEGADO HONRADO

( em honra do Moringueira)

Chegou metendo a mão na orelha
não olhe pra ele de esguelha
é o dono da situação
detesta lavagem de dinheiro
inimigo total da corrupção
Seu nome é descência e honradez
dele até se conta que, uma vez,
abordado por um Chefe de Estado que
lhe oferecia o saque
de uns produtos contrabandeados
a troco de a pena do amigo
ser posta de lado,
deu um berro e gritou voz de prisão,
montou um barraco que chamou tanta atenção,
o assunto povoou os jornais mundiais
e o chefe das instituições nacionais
perdeu o posto e nele ninguem vota mais,
até hoje está pagando atras das grades
prestando serviços à comunidade
pra aprender o que é governar de verdade.
Olha como ele é interessante,
um cara simples, sem bravatas,
fala manso, sem rompantes,
sem abuso de força,
se impõe pela firmeza
dos pés no chão que pisa;
quando ele põe a mão assim, em concha,
está ouvindo alguma coisa,
uma investigação,
ele presta muita atenção;
ouve mais do que fala,
nada resolve à bala,
direito é na base da conversação.
Algema quem está errado
sem essa de coitado;
desvio de conduta é perder a direção,
e o cara que está perdido
precisa de orientação.

O delegado bamba
trabalha de dia
sabe quem lhe paga
e nele confia
faz o seu trabalho
de organização social
a começar pela delegacia,
a corregedoria é seu orgão essencial.

REPARE

O REALISMO É CADA VEZ MAIS FANTÁSTICO:
O capitalismo,
o neoliberlismo,
o seu apetite voraz
pelo direito exclusivo
de gozar o mundo,
gozar no mundo,
cria seus monstros
e suga e suga o peito de Agar

Repassando os custos
para debaixo do tapete
O crack de 29
é a droga de hoje
quebrando o indivíduo
com impostos, empresas fictícias
dominando a comunicação, a telefonia

O mundo é que está pagando,
passando
Crianças expostas aos ladrões de pirulitos,
recebem alfinetadas
nesse ritual
negro do mercado
Vejamos a listagem da Forbes,
as propostas da fantástica
fabrica
de chocolates

Mais e mais e mais e mais
e mais e mais e mais
para poucos o gás
o combustível para exploração
O pré sal e antes do sal
antes da força plenamente desenvolvida
explorar menores e mulheres
e água, e o vento
explorar, explorar para não distribuir
para ganhar, mais e mais e mais e mais e mais
e nós?

EU CA MINHA, COMADE CA DELA

PROPONHO UM NOVO CARNAVAL,
ESTILO VENEZIANO
MÁSCARAS PARA QUEM QUER PÔ-LAS
FANTASIAS A QUEM CONVENHA,
RÍTMOS VARIADOS EM DESFILE,
STRAUS PARA OS DESANUVIADOS,
SAMBA PARA OS DESCOLADOS,
RAP PARA OS CARAS PERIFEROURBANIZADOS,
MARCHINHAS PROS ANTEPASSADOS,
TATI PARA AS CRIANCINHAS E BITATI AOS PAIS RESPONSABILIZADOS,
MARACATU ATÔMICO PROS SARADOS
DESFILANDO NA AVENIDA DE CÂNDIDO
TERMINANDO EM BAR DE ANTONINA
E VOLTANDO E INDO E VINDO
DESFILANDO A HISTÓRIA DO PARANÁ
OS IMIGRANTES DE ONTEM, HOJE
A HISTÓRIA TRIUNFANTE
OS FARRAPOS, CANUDOS DE REFRIGERANTE
AS MUSAS DA PASSARELA
AS PERNAS, OS CABELOS,
O MELHOR CARNAVAL DO BRASIL
O RIO INTEIRO, O BOI,
O GADO COM CD NA TESTA COLADO
PROPONHO UM CARNAVAL CIVILIZADO
INSTITUIDO, ORGANIZADO
O PODER PÚBLICO ASSUMIDO, ALIADO
GARRAFAS E LATINHAS COM RÓTULO TAMPADO,
NINGUEM MUITO CHAPADO,
BANHEIROS ESPALHADOS,
TENDAS COM AR REFRIGERADO,
DISCRETOS LOCAIS DE CHAMADO
PROS ABUSADOS SEREM ACALMADOS
ATÉ MELHORAREM A ONDA
QUE VEM E VAI PELA CIDADE,
TRES DIAS ANIMADOS
PARA TODOS
ELEGANTE,
FEITO O POVO DE TURBANTE,
OS FILHOS DE GANDHI,
PACIFISTAS ATÉ Ã RAIZ
QUERO TODO MUNDO FELIZ

AEH, DOS CURITIBANOS

Existem coexistem
BÍBLIA
Biblioteca
Bibliotecas
Dicionário
Dicionários
Enciclopédia
Machado
Instrumentos e Jorges em rima

Aedos, poetas da antiga Grécia
resistente ao tempo
da História Universal

As palavras são mutantes também
como Arnaldo, Lee, Edson, Jackson,
Pedro, Chico, Emanuel,
Pera, etecétera e etc e ect e cet e tec.

O Aeh é
o E Aê!
dos curitibanos
amigos
que insistentemente
convidam a sair do círculo
pra entrar no seu quadrado
Mas, da espiral ascendente
posso passar
com pares de asas
pelo sul e pelo norte
Por isso, vim
dizer
E aeh!
Foram me chamar
estou aqui,
que que há?!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

DISPUTA ENTRE CHATOS

Ah, mas que sujeito chato sou eu
sem interesse em disputar por carro
piscina, assistir ao vivo Fórmula !, partida de tênis,
jogar golfe e ver desfile de grife famosa

Ah, mais chato sou eu,
financiar 5 estrelas
de restaurante, spa, esticar a pele,
financiar viagem ao espaço,
programação "cultural", caderno "especial",
móveis certificados, telefone móvel com blue ray,
receber a mulher e o diretor,
se não for por amor,
só faço isso com dor.

Ah, estou certo que ganhei
pois tudo isso que você sente por isto
eu sei, também já experimentei
Mas nada é mais chato
que traçar uma meta pra subir na vida:
frequentar um curso, aprender oratória e teatro,
um idioma que não nos é nato,
pra depois ir pro exterior. E me vender barato,
voltar com diploma e emprego de doutor
e saber que estive o tempo todo
num laboratório feito rato.

Pensando assim faz sentido amar e admirar o cotidiano
oh! vidinha linda e besta, deixar o mar me navegar
já que todo mundo um dia vai pro mesmo lugar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

AS MARIPOSAS

Mariposas, como são maravilhosas!
Asas abertas, metade de flores;
Asas fechadas, Nossa Senhora Aparecida!

sábado, 17 de outubro de 2009

OARISTO

Este frio que está a fazer-se
além das núvens geografia avança
se o amor é chama
queima o frio e amansa
os corpos sob o cobertor, na cama
Retesam os fios que dos poros saem
bicos de pena e os membros se entrelaçam
acena ardente da paixão, do vinho,
a mão que roça, bocas que se amassam.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

JOGADOR

Um jogo de cartas marcado
pra noite de feriado
baralho novo

Mesa redonda
porão
cartas na mão

Reis, damas, valetes
manga, blefa
o Ás do jogo ganha a banca

Carteado
Copas, Paus, Espada e Ouros
Coringa

HABEMUS

Todos sabemos que não sabemos
como procuramos luz no fundo do túnel eterno
como comemos do que semeamos
como são sabidos os sabidos que se põem nesse lugar

A roda gira sob o eixo
As plantas enchem-se de brotos
As gotas se alastram nas proximidades do oceano
Os mesmos gestos variam na multidão

Todos sabemos que não sabemos
Sempre nos lembramos disso
Esquecer também é parte do jogo de lembrar
Todos não sabemos e sabemos disso

O princípio de tudo
O fim de tudo
Os meios para se pensar princípio e fim
Os meios e princípios

Nada sabemos se comparado ao tudo se sabemos que tudo é muito
Muito do que sabemos não é saber, é invenção propalada
Mais do que sabemos somos sabidos
E o saber é apenas uma parte

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Comunicações Tipo Espinhas de Peixe

Saudade da professorinha
lembra uma época ingênua
quando se acreditava que oportunidade
era cursar o ensino regular
desde o fundamental ao superior

A prática é outra
veta-se a oportunidade por meios
muito mais sutis
simplesmente negando
reconhecimento ao outro

Inviabiliza-se carreira a uma criança
colocando-se um obstáculo
intransponível em seu caminho
e mesmo que ela o transponha
com as mãos toma-se-lhe aos braços
e desvia-se-lhe da experiência
pela qual buscava
Assim faz o adulto!
Assim faz o que quer.

Será tão legítima essa vitória
do plantonista vigilante
da porteira do saber
quanto maior sua habilidade
em reter conhecimento

Interessa ao império
qualquer império
usurpar

Todo império rui
a história informa
mudança de mãos

Sob todo império
enterra-se os ossos da ciência
sob o qual se ergue a indústria
bélica sem ser bela
forte sendo a maior expressão de covardia

Agora, vem nova estrofe de nove versos
Passo e o império passa
quando parece que cedi
o império colhe vento e a tempestade
se lhe avizinha o gosto amargo
de ter comido de sua própria carne
bebido seu vinho
ter perdido sua luz
seu seguidor fiel e aporte

Vem nova estrofe de cinco
depois mais uma de cinco
formando-se o dez
maior que o nove
maior e menor que o zero inicial ou próximo

O próximo é sempre aquele que chega
como o outro que bate
e ouve a resposta de quem está dentro
se é o império, dirá:
_Dá-me o que é teu em silêncio

Tudo o que o império fará
parecerá um convite ao grupo;
todos os ardis serão possíveis
de modo a que quem veja de fora a cena
pense o quanto ele fez empenho
em ser uma democracia
e que o autoritário foi aquele que bateu a porta
que só não abriu
por que quem bateu não soube entrar
para partilhar o pão.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PARTIDA

São Paulo
Versos
Coríntios

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SÉRIE RELEITURAS, RETRADUÇÕES,REVERSÕES& IRREVERSÕES

ANTIGONA, 1988 (baseada em Erasmo Carlos)

Sei que você fez os seus castelos que sonhou ser.
Salva do dragão, que diz ilusão?
Meu bem quando acordou estava.
Sem ninguém, sozinha, no silencio de seu quarto, pró cura.
A espada do seu salvador, que no sonho se diz:
_Espera! Já! Mais!
Vai tirar você da fera da solidão!
Com a força, do seu canto esquenta!
Seu quarto pra ser cá, seu.
Pranto?!!!
Aumenta o rádio
Me dê a mão filosofia;
eh, poesia!
Já!
Dizia a minha avó antes...
Mal acompanhada do que só você. (_Precisa!)
De um homem pra chamar
de seu mesmo;
que esse homem seja!
_ Eu!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

(baseada em Jackson - do Pandeiro e dos sons)

EU SÓ

Ponho hip hop no meu samba
Tio, Sam já pegou no tamborim
Já sacou que Pandeiro não é só pra rumba
Já que som não tem parada nem tem tumba

DIA DE PASSARADA

A andorinha é uma avezinha
bem representada pela letra v
Voo em bando, dá uma voltinha
Vitória no céu: andorinha
Viaja, vagueia, vislumbra
A tardinha, a penumbra
Arruaça no arvoredo da praça
Andorinha se instala
Vê andorinha! Regala
A andorinha assinala
O v do véu do céu
Sobre a terra
Voa verso
Verso voa
Da pena da andorinha
à minha canetinha!

SOLIDÃO NO AZULÃO

Jururu
O urubu desce ao chão
Não tem beleza de pavão
Quase ninguém lhe faz festinha
Quando é visto de perto assusta criancinha
Todos se lembram do que come
Não é bicho de agradar
Talvez, por isso voe sempre tão distante
Visto no céu vira andorinha
Aí, quem sabe, uma vezinha
Alcança a chance de alguém olhar
Com uma dose de poesia
e pensar: queria estar no seu lugar.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

FORRO E TRIÂNGULO COM SÃO PEDRO

São Pedro, Santo do Céu
Guarda a chave da entrada
À porta aguarda a moçada
O trio do forro pé de serra
Alegria da terra
Vai haver festa no céu
São Pedro arranja assim:
Junta Bach com Tom Jobim
Pixinguinha e Chiquinha
Itiberê com quem caber
E a festa vai crescendo,
Frevo, samba e rock'n roll
Na partitura, no céu
Mingnone, Gnattali,
Caneloni, Gnochi, a Traviata,
Canja, canjica,cachaça,
Caviar, vinho espumante,
Tudo que é bom tá no céu
São Pedro tá lá por isso
Porteiro de quem sou fã
Encomendou a Mondrian
O enfeite, o cenário
A inspiração do claviculário
Deu aquele quadratório
E o Volpi vendo aquilo
Introduziu o triângulo
E o círculo se abriu
Eternamente pro infinito
Na quadratura das bandeiras
São Pedro: porteiro, pedreiro,pescador
Juninos que vão abrindo
as pedras, o mar, a imensidão
Sapo que não entra na festa no céu
Desconhece urubu e violão

domingo, 28 de junho de 2009

sábado, 20 de junho de 2009

OVO SOL, AVE LUA

Quando o sol se deita no poente
põe o ovo da lua
A lua cresce como um ovo quente
pois o sol nela se põe
miúda, cresce, cheia de si sempre nova
O ovo do sol é cheio de estrelas
As estrelas fecundam a noite
A lua, o ovo, a noite
desmancha-se inteira no dia
O sol da manhã é o ovo
A lua deu cria

BAIÃO JUNINO

São João, São João Divino
Desde os tempos de menino
Reparte luz e carinho
Carregando um cordeirinho
E com esse seu bichinho
Brincando de mansinho
Faz haver antes do sono
Suave, relaxamento
Onde todo seu rebanho
Pula cercas de madeira
Pra quando chegar o junho
Todo mundo está no ponto
De brincar junto à fogueira
Ah! São João, Xangô menino
Meu amor é grande assim
Alegre qual bandeirinhas
Feito Volpi em barraquinhas
Canjicas e paçoquinhas,
Pipoca, quentão, Sertão:
Veredas de João no mundo
Estrelas no firmamento
Se espelham no luminário
Que João acende no chão
Viva São João
Viva o brilho dele!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

VOCÊ PEDE, EU MANDO

Se você me pede ouro
Ouro eu te dou
Se você me pede prata
prata eu te dou
Se me pede alumínio,
Te envio sem escrutínio
Lá do Vale do Silício
Te dou tudo em silêncio
Se você me pede lata
Lata eu te dou
Tudo isso não é meu
Tudo isso não é seu
A pedra filosofal
Não é pedra de anel
Não é pedra de sabão
Nem mármore, nem granito
Peça, eu mando, não fique aflito
Se eu te dou o que não tenho
Tudo dou, você perdeu
Porque tudo que lhe dou
Jamais me pertenceu
Meu amor te dou todinho
Meu amor sempre foi meu
Meu amor te dou amor
Pois amor se é seu é meu
Por isso te dou o ouro, a prata, a lata, meu bem
O bem que distribuo passa a ser meu também

BAIÃO JUNINO

Meu querido Santo Antônio
Por favor não me embrome
Eu te peço mande um home
Com H de honestidade
Com O de ombro amigo
Com N de nome limpo
Com E de é pra valer
Com S de sereno e calmo
Com T de tesão e tudo
Com I de inteligência
Com D de direito e esquerda
Com A de amor eterno
Com D de dinheiro limpo
Com E de esse é que eu quero
Santo Antônio eu te peço
Com a candura desses verso
Pelas letra do seu nome
Que me mande esse home
Pra sociedade anônima
E nós três feito uma firma
Com amor poesia e rima
Administremo o casório
Devotamente, no amor
Bem, diante do ofertório

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Samba

Desde a manhã
pensei tanto em você
compus uma canção
pra encher seu coração
de flores, mimos e luzes
Atente, amor,
que estão nas entrelinhas
as coisas comesinhas
intimidades do cotidiano
esforços pra concretizar planos
do tipo tolos, banais
a que se metem casais
ao construir suas vidas:
roupa lavada, comprada, casa, saídas
cinema, bens, literatura à fartura
música, temas de variação
pois quem vive junto casa
com o poder da criaçao

sexta-feira, 1 de maio de 2009

RIZO, RIR E RIZAR

Rir é contrair
os músculos faciais
em consequência de
uma impressão alegre
Risada é soltar gargalhada
Rizar é recolher os rizes
é encurtar as velas com os rizes
rizes é plural masculino de
um termo náutico; mesmo que ilhós
por onde passam os cabos
rizes são cabos finos
passando por esses ilhóses
os nós que nos cabos são dados
os nós que nos cabem serem dados
levantam ou encurtam as velas
rizar é encurtar as velas
Já rizo, elemento de composição com
o sentido de raiz
remete à base das coisas
fundamento, motriz
Rizo de rir e rizar está no Verbo

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Esculápico

Sou médica
sinto com a ponta dos dedos
o veio de ouro
no leito do rio
fiz curativo sobre o gêiser
e trato as feridas
de queimadura
expostas na boca do vulcão
Com o raio opero
curas sem cicatrizes
A terra vai parir
cristais e diamantes
sementes inseminadas
e o sol vai assistir,
luz que se dá
um corte incisivo
mais uma estrada
ligando os pontos
do globo ocular

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ensaio sobre:

Quando se ensaia algo, ou se está prestes a se dar algo a acontecimento; ou já se sabe o que se vai dar e quer-se dar o melhor, então ensaia-se para fazê-lo acertadamente, dentro de certos limites previsíveis de erros. Ensaio e precipitação e ensaio e repetição. O ensaio que permanece em segundo sentido, em algum momento precipita-se na apresentação. O virtuosismo solicita, no entanto, uma dosagem contínua de ensaios para o aprimoramento daquilo que a crítica aponta como necessário para o refinamento da coisa pretendida à oferta. Essa crítica é tanto interna quanto externa, sob certo ponto de vista; são uma só essas duas coisas, sob outro ponto de vista; em outro, deve(m) ser desconsiderada(s); e ainda numa quarta opinião, quem pode prescindir dela?!
Gosto das quatro opiniões: parece-me alto, baixo, lado e lado. É possível dançar sobre o eixo.
Então continua-se o ensaio, ora considerando os tubos em que se depositam os elementos, o líquido, os gazes; ora... os tubos. De ensaio, essa química do espetáculo. Interação entre a cena e o público. O texto, o ensaio é um texto.

sexta-feira, 27 de março de 2009

SERPENTÁRIO

Este (sei lá se) conto, foi publicado no "Pó&Teias com um erro: na última linha, ao invés de "esquisito o gosto DE vida daquela morte", saiu "esquisito o gosto DA vida daquela morte". Para mim, isto altera o sentido!

Escrevi para...



SERPENTÁRIO

O tempo, as relaões entre as pessoas, os títulos, as instituições foram ficando, se já não eram antes, esquisitos. Ou recebendo intervenções de esquisitisse, até se tornarem uma outra coisa.

Só por exemplo, as gerações começaram a referir-se umas às outras em termos de estilo de vida da década posta em questão. Anos sessenta representava um certo modo de vestir, pentear cabelos, portar-se em público. Anos vinte era uma mistura de cortes de cabelo, adereços no pescoço ou nas golas, danças, tornozelos à mostra. Modernos, pós-modernos, beats, punks, hippies, rappers, outros exemplos da nova nomenclatura. Vestia-se essas décadas. Atuava-se esses pareceres. Portava-se. Referendava-se. O passado próximo.

Tudo estava acontecendo ali mesmo, num sem tempo, onde as pessoas tinham pressa de terminar o serviço. Para tudo se tinha pressa. Pressa de comer devagar. E ninguém tinha tempo. De fazer. O que era certo.

Ao mesmo tempo, tratavam de desfazerem-se do passado com rapidez. Os paradoxos prolixos foram banidos da ordem da classe. Por sua vez, isso afetava todo seu sistema. O patrimônio, as coisas feitas bonitas e caprichadas, para onde teriam que ir? Serão ruinas? Ou recordações? Quem decide é quem fica e deve pensar também no porvir. As gerações parece terem se esquecido que o homem é um ser que se sabe. Até onde lhe caiba saber. Tudo esbarra em algo mais sólido, ou melhor, em algo potente o suficiente para fazer contenção.

Até vida e morte se esbarram. Mas a morte não faz contenção. A vida absorve a morte.

E para o tempo, as relações, os títulos, tudo havia, uma vida ocorria além de tudo que morria; esquisito o gosto de vida daquela morte.
Continua...